Publicado em 28/10/2025 às 11h03 Brasil Educação
Por: Flávia Girardi
Entre os muitos efeitos do uso exagerado das telas, um comportamento em especial tem se tornado cada vez mais comum e preocupante entre adolescentes: a criação de múltiplos perfis nas redes sociais. Cada perfil traz uma persona diferente, cuidadosamente moldada para públicos distintos. Para a psicopedagoga Luciana Nunes Vaccari, isso vai muito além de criatividade. Trata-se de um reflexo direto da falta de conexão afetiva e da carência de diálogo dentro de casa.
“Então, se ele está tendo a necessidade de criar esse mundo irreal, simulacros, realidades paralelas. Que mundo é esse? Onde estão os pais? Que conversa está faltando em casa?”, questiona Luciana.
“É um vazio. É triste. Um mundo solitário em que o adolescente precisa inventar histórias para se sentir feliz dentro da câmera. Isso diz muito sobre o quanto está faltando de presença e acolhimento.”
Segundo ela, essa necessidade de viver diferentes versões de si mesmo no ambiente digital revela fragilidades emocionais profundas, muitas vezes ignoradas pelos próprios responsáveis. “Quando um adolescente precisa criar vários personagens para ser aceito, é porque ele não está encontrando esse acolhimento no mundo real. E o mais grave: isso está sendo normalizado.”
A ausência que as telas preenchem
Para Luciana, o uso excessivo das redes e telas está diretamente ligado a uma ausência de convivência real no ambiente familiar. “A gente acha que está todo mundo junto porque mora na mesma casa, mas, muitas vezes, a família virou apenas um grupo de pessoas que divide o mesmo espaço. Falta troca, falta vínculo, falta convivência.”
É nesse vácuo que a tecnologia entra com força total, oferecendo companhia, atenção e entretenimento substituindo a presença dos pais, o afeto e até a escuta. “Quando não tem esse espírito de família, de conversa, de estar junto, os eletrônicos vêm com os dois pés no peito. Eles substituem o que está faltando.”
Luciana também chama atenção para a incoerência de muitos adultos, que exigem mudanças nos filhos, mas não oferecem modelo ou suporte. “Você manda o adolescente sair do celular, mas ele vai fazer o quê? Ficar com uma mãe que também está no celular? Se quer que ele largue a tela, proponha algo. Diga: ‘vem aqui me ajudar na cozinha, vamos conversar, vamos brincar’. A mudança começa pelos adultos.”
O exemplo começa pelos responsáveis
A psicopedagoga reforça que a educação digital começa em casa, com o comportamento dos pais e responsáveis. “Criança aprende pelo que vê. Se os adultos estão o tempo todo conectados, como exigir o contrário dos filhos? Não basta proibir, é preciso viver a mudança.”
Ela destaca que os limites precisam ser construídos com afeto, coerência e presença e não com gritos ou autoritarismo. “É preciso sentar, conversar, negociar. E, principalmente, estar disponível emocionalmente. Todo mundo quer ser a mãe leoa. Mas pra ser leoa, precisa mais do que rugir — precisa ocupar esse papel. E isso exige sacrifício, exige abrir mão. Não dá pra fazer omelete sem quebrar os ovos.”
Privacidade x supervisão: não há contradição
Luciana também desmonta o argumento de que os adolescentes precisam de privacidade absoluta nas redes sociais. Para ela, essa ideia é perigosa quando usada como desculpa para não acompanhar o que os filhos estão vivendo no ambiente digital. “Quem paga a conta do celular e da internet ainda são os pais. Então sim, é preciso acompanhar. Isso não é invasão, é cuidado. O adolescente não tem autonomia emocional e cognitiva suficiente para lidar com tudo que encontra online.”
Ela alerta que quando o filho diz que ‘o celular é dele e ninguém pode mexer’, é sinal de que já existem barreiras no relacionamento familiar: “Isso mostra que não há diálogo, não há proximidade, não há respeito mútuo. E isso precisa ser reconstruído com urgência.”
Os danos que começam cedo
Os efeitos do uso precoce de telas são evidentes já na primeira infância, com prejuízos diretos ao desenvolvimento neurológico, emocional e escolar. “Hoje nós já temos dados comprovados de que o uso de telas em excesso faz mal. Crianças até 2 anos não devem ter nenhum contato com telas. Entre 2 e 3 anos, no máximo uma hora por dia. Dos 11 aos 18, o tempo máximo deve ser três horas, sempre com pausas e supervisão.”
Entre os danos mais frequentes, ela cita ansiedade, dificuldade de concentração, agressividade, angústia e baixa autoestima. “É uma ansiedade angustiante. A criança não entende, não aprende, se sente burra, incapaz. Isso afeta a autoestima e se reflete no desempenho escolar e no comportamento.”
Luciana explica que a frustração gerada por não conseguir acompanhar o ritmo das aulas ou compreender o conteúdo acaba se manifestando em atitudes como indisciplina, inquietação ou desinteresse. “Ela não entende o que está sendo ensinado, não se sente capaz, e isso vira um ciclo de desmotivação. Vai se acumulando até que se expressa em forma de agressividade, isolamento ou até desistência da escola.”
A responsabilidade não pode ser terceirizada
A psicopedagoga encerra com uma reflexão contundente: educar emocionalmente um filho exige esforço, renúncia e presença real. Não se trata de proibir a tecnologia, mas de ensinar a usá-la com consciência e equilíbrio. “Às vezes dá preguiça, sim. Dá vontade de deixar a criança quieta com o celular. Mas é uma escolha. Se quisermos formar um adulto saudável emocionalmente, a hora de agir é agora. Com afeto, com limites, com presença e com exemplo.”
Dicas para os responsáveis ajudarem adolescentes no uso das redes sociais:
Converse com frequência, mesmo que o filho pareça resistente.
Acompanhe as redes sociais, mas com base no diálogo e não na vigilância.
Ofereça alternativas reais, como jogos, passeios, tarefas em conjunto.
Evite o excesso de telas dentro de casa, inclusive por parte dos adultos.
Demonstre interesse pela vida do adolescente, sem julgamento.
Mostre que é possível confiar, mas que o cuidado não será ausente.
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