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Psicólogos alertam para o cuidado com apps de relacionamento

Mergulhar de cabeça em envolvimentos virtuais pode aumentar ansiedade e depressão

 Publicado em  21/01/2022 às 18h48  Brasil  Saúde


Bárbara Garcia
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“Era junho de 2020. A pandemia de coronavírus já era preocupante. Havia terminado um namoro recentemente e estava sem emprego. Decidi entrar em um aplicativo de relacionamento só para observar. Mas logo comecei a conversar com um rapaz que tinha muitas afinidades, os mesmos gostos e me tratava muito bem. Eu não acreditava que fosse possível me apaixonar por alguém sem conhecê-lo pessoalmente, mas aconteceu. Passamos meses conversando até conseguir marcar um encontro, por medo do vírus. Depois de dois encontros presenciais, ele chegou a dizer que eu tinha marcado sua existência. Dias depois, decidiu se afastar, com a justificativa de que queria ficar com outras. Foi um baque emocional terrível e a situação desencadeou de um episódio depressivo”.

Essa história foi contada por uma jovem que preferiu não se identificar, mas não é incomum nos dias de hoje. Os aplicativos de relacionamento, como Tinder, Ok Cupid, Match, Grinder, Bumble, entre outros, já estavam entre os mais baixados antes da pandemia, mas o isolamento social parece ter contribuído para que algumas pessoas enxergassem neles a melhor - ou a única - chance de conhecer pessoas novas. E é nesse contexto que muitas vezes essas vivências pioram a ansiedade, insatisfação com o corpo e aparência e também podem, em casos mais graves, expor quem utiliza as situações abusivas, tanto psicológica quanto fisicamente.

O jovem Pedro Miguel, de 23 anos, professor de Educação Física, relata a dificuldade de dar “match” com muitas garotas, porque considera que não tem uma estética padrão. “Acho que elas ficam imaginando que podem encontrar homens mais bonitos, então perco a chance de fazer contatos. Mas estou bem com isso, porque sei que não iria querer alguém que só valoriza aparência”, conta ele.

Outro jovem, de 27 anos, conta que já encontrou perfis falsos. “Descobri porque fui procurar a pessoa em outras redes, como Facebook e Instagram e não existia”, mas diz que a situação não é muito comum. “Fico mais incomodado quando passo dias conversando com a pessoa, parece que está tudo ótimo, dou atenção, tenho a sensação de que vai rolar e depois a pessoa some”, conta.

A prática do sumiço ou do bloqueio, conhecida também entre os jovens como unfollw, parecia ser mais comum entre homens, mas alguns relatam que mulheres também tem se afastado sem uma conversa prévia ou explicações.

Em entrevista ao UOL, a psicóloga da Beneficência Portuguesa Vanessa Karan, explica que, quem se propõe a se relacionar também se abre para envolver-se afetiva e romanticamente e assim correr o risco de não ser correspondido. “Essa situação eleva a tristeza, porque claramente fere o amor-próprio e a autoestima. E a cada nova tentativa frustrada a pessoa pode se fechar ainda mais”, explica.

A rejeição pode causar o que profissionais da Saúde Mental chamam de “desamparo aprendido”, como explica o professor e doutor em neurociências Pedro Calabrez, no vídeo “Como curar um coração partido”, de seu canal no YouTube, Neurovox: a pessoa que se decepciona muitas vezes consecutivamente, pode acabar perdendo a esperança de encontrar felicidade nos relacionamentos.

Ele e muitos outros especialistas da área, como também o professor da USP e psicanalista Christian Dunker, deixam claro que apaixonar-se não é um processo consciente. Por isso, aquele velho ditado que diz “a gente não escolhe por quem se apaixona”, tem respaldo científico. Mas é importante lembrar que da mesma forma que você não tem controle ou “culpa” por seus sentimentos, o outro também não tem e não é obrigado a suprir suas carências. E sabiamente o psicanalista Dunker afirma: “Você não quer que o outro queira. Você quer que ele deseje exatamente o que você também deseja”. Infelizmente, a vida também é feita desencontros, que, quando encarados como parte do caminho, podem ser menos dolorosos.

 Ao passar por uma experiência de afeto não correspondido, é importante lembrar que a reação da outra pessoa diz mais sobre ela, e as dúvidas dela. É saudável manter a noção de que o nosso valor pessoal continua sendo o mesmo.

Os médicos psiquiatras e os psicólogos afirmam que não é possível quantificar o dano que essas experiências podem causar, pois depende da personalidade e do quanto a pessoa se envolveu afetivamente. Muitas vezes esse tipo de dor emocional pode sim levar a quadros preocupantes de depressão e ansiedade patológica, bem como outros sintomas. Sendo assim, procurar terapia com um profissional sensível e de confiança é sempre recomendado.

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