Podcast O Futuro em Pauta encerra 2025 com reflexões sobre fotografia, memória e o olhar sensível

Gabi Domingues, Flávia Girardi e Paula Zwicker
Foto: Lucas Cardoso/ Mais Expressão

No episódio que marcou o encerramento da temporada 2025 do podcast O Futuro em Pauta, apresentado por Flávia Girardi e Gabi Domingues, a convidada Paula Zwicker, gestora cultural, arte-educadora e fotógrafa, trouxe reflexões profundas sobre arte, memória, fotografia e a construção de um olhar mais atento para o cotidiano.

Durante a conversa, Paula contou de uma aluna que reportou como a fotografia transformou sua forma de ver o mundo. “Foi um novo olhar, uma nova vida pra mim, porque eu passava pelas coisas no dia a dia, na rotina, sem prestar atenção. E agora eu consegui reduzir esse tempo, parar pra ver, pra observar, inclusive uma coisa que tá logo ali”, afirmou.

Segundo ela, esse processo não depende apenas de técnica, mas de hábito e sensibilidade. “Quando você se habitua a parar e observar, você consegue enxergar coisas que talvez passassem batido”, destacou, ao comentar sobre o exercício cotidiano do olhar.

A convidada também falou sobre a fotografia como uma linguagem amplamente difundida, mas nem sempre compreendida em sua complexidade. “A fotografia é uma linguagem que todo mundo acha que sabe falar”, citou, lembrando a reflexão de uma curadora do Museu de Arte Moderna de Nova York. Para Paula, ao se aprofundar nesse universo, a imagem se revela em múltiplas camadas e sentidos.

Um dos pontos altos do episódio foi o relato sobre seu trabalho artístico premiado no 11º Salão de Artes Visuais da Prefeitura de Indaiatuba. A obra nasceu de uma inquietação comum aos tempos atuais: o acúmulo de imagens nos celulares. “O que me moveu a fazer o trabalho foi pensar nesses arquivos que estão na minha câmera. O que a gente faz com esses arquivos? Como a gente se relaciona com essas fotos?”, questionou.

A partir dessa provocação, Paula criou uma proposta artística pessoal. “Eu me propus a pegar todos os arquivos do meu celular, absolutamente todos os que tirei em um mês, e criar uma imagem única a partir desses registros que estão lá e nunca vão ser tocados”, explicou. O resultado foi um processo de criação de imagens compostas por junções de diferentes fotografias.

Ao observar essas composições, a artista percebeu que o resultado ia além da ideia tradicional de paisagem. “Elas parecem paisagens, mas não são de verdade. Elas não existem, porque são junções de vários lugares, de vários momentos”, contou. Assim nasceu a série intitulada “não paisagens”, marcada por uma estética que flerta com o surreal. “Tem até uma coisa meio surrealista, porque você tem proporções irreais, prédios e janelas que se confundem”, completou.

Paula celebrou o reconhecimento recebido, ressaltando a importância do prêmio, sem perder de vista o valor do processo criativo. “Fiquei muito feliz de ser contemplada com o prêmio, porque é um reconhecimento. Eu estava gostando de fazer aquilo pra mim, mas também fico feliz quando esse trabalho encontra o outro”, afirmou.

O episódio também abordou a democratização da fotografia com o uso do celular e a mudança na busca pela imagem perfeita. Para Paula, hoje o diferencial está na poética do olhar. “Antigamente havia uma perseguição da imagem perfeita. Hoje, como o celular já faz a foto, a gente começa a ver um movimento ao contrário. O erro, a imagem borrada, passam a fazer parte da assinatura do fotógrafo”, explicou.

Com reflexões sensíveis e profundas, o episódio encerra a temporada 2025 do O Futuro em Pauta, reforçando a proposta do podcast de provocar pensamento, ampliar repertórios e dar voz a trajetórias inspiradoras. A próxima temporada já está confirmada e retorna em 2026, com novos temas, convidados e debates sobre cultura, sociedade e futuro.

Assista a entrevista na íntegra