Papa Francisco: o Papa da esperança e da misericórdia despede-se do mundo

Papa Francisco faleceu aos 88 anos
Foto: Divulgação

Por Mayara Piperno

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O mundo amanheceu mais silencioso no dia 21 de abril com a notícia do falecimento do Papa Francisco, aos 88 anos, encerrando um papado de 12 anos marcado pela simplicidade, pela esperança e por uma profunda transformação da Igreja Católica. Primeiro pontífice latino-americano e jesuíta a ocupar o trono de Pedro, Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, será lembrado como o Papa da misericórdia, da ecologia, da missão e, acima de tudo, do povo.

Desde sua eleição em 13 de março de 2013, Francisco optou pelo nome de São Francisco de Assis para sinalizar o tom de seu pontificado: uma Igreja pobre para os pobres, em saída, próxima das dores do mundo. Em tempos de crise moral e institucional, promoveu uma reforma corajosa da Cúria Romana e da estrutura eclesial, destacando-se como um líder global por sua postura em defesa dos pobres, do meio ambiente e da paz.

Foi ele quem proclamou o Ano da Misericórdia, abraçou os marginalizados, buscou o diálogo inter-religioso, caminhou entre refugiados e enfrentou guerras com palavras de paz. Deixou documentos históricos como Laudato Si’ e Fratelli Tutti, e nunca se afastou da ternura, da escuta e da simplicidade, traços que conquistaram não apenas católicos, mas também pessoas de outras religiões e culturas.

O velório e a transição

O velório do Papa Francisco acontece no sábado, 26 de abril, no Vaticano. Milhares de fiéis são esperados para prestar suas últimas homenagens ao homem que, com gestos simples, revolucionou a forma de ser Papa.

Após o sepultamento, tem início um momento solene para a Igreja: o período de Sede Vacante, quando o trono papal permanece vago até a eleição de um novo sucessor de Pedro. Os cardeais do mundo inteiro se reunirão em conclave, na Capela Sistina, sob a condução do Espírito Santo, para escolher o novo pontífice. O processo pode durar dias, e a expectativa é grande, tanto dentro quanto fora da Igreja. Como lembrou o padre Marco Antônio Amstalden, pároco da Paróquia Santo Antônio: “A palavra de um Papa tem peso e influência política na ordem da paz e conduta dos governantes e dos cristãos”.

Vozes de fé e saudade

Padres e fiéis em todo o mundo prestam homenagens emocionadas. O padre Marco Antônio Amstalden, pároco da Paróquia Santo Antônio, com palavras profundas, destacou: “Silenciou-se a voz que abria os braços, que ergueu os pobres como catedrais, e entre os palácios, preferiu os passos dos que não têm nome, nem têm paz. Francisco, sopro manso da esperança, irmão dos simples, servo do perdão, plantou no mundo a luz da confiança, e acolheu o mundo em seu coração. Agora, os sinos choram sua partida, mas o céu, talvez, acenda uma estrela: a de um pastor que, em sua despedida, deixa a ternura mais viva do que ela. Não partiste, semeaste eternidade.” Ele acrescenta: “A Igreja neste momento vive a expectativa da eleição do novo Papa. São muitas especulações. Mas somente a força da oração e da fé no Espírito Santo saberá indicar o novo pontífice. Enquanto o Vaticano se prepara para este momento, sempre histórico, as nações olham para lá com certo interesse, afinal a palavra de um Papa tem peso e influência política na ordem da paz e conduta dos governantes e dos cristãos. Papa Francisco foi o grande motivador da consciência ecológica no mundo, bem como influência para se alcançar a paz nos continentes em guerra. O Vaticano, sendo o menor país do mundo, tem poder de grande, porém discreta influência política para o bem da humanidade.”

No Santuário Santa Rita de Cássia o pároco e reitor padre Rogério de Almeida relatou que, desde o anúncio da morte, missas estão sendo celebradas diariamente em sufrágio da alma do Papa. “Nós fomos surpreendidos no dia 21 de abril com a notícia do falecimento do Papa Francisco, encerrando assim 12 anos de pontificado. Desde então, nosso santuário está guardando o luto, com missas em sua intenção até sábado, às 8h30 da manhã. Após o sepultamento, iniciaremos as orações pedindo ao Espírito Santo que conduza o colégio de cardeais na eleição do novo pontífice, no tempo oportuno, como prevê a tradição da Igreja, através do conclave.” Ele destaca três pilares do pontificado de Francisco: “O primeiro é o compromisso com a ecologia, com a casa comum, algo que ele nos ensinou com profundidade. O segundo é a missão, com a proposta de uma Igreja em saída, peregrina da esperança, que evangeliza com coragem e fé. E o terceiro, a opção preferencial pelos pobres, inspirada em São Francisco de Assis. Francisco, o Papa, assumiu esse programa, denunciando todas as formas de exclusão e apontando sempre para a paz. Tudo isso sustentado por uma marca que atravessou seu pontificado: a misericórdia.”

O padre Jonas Barbosa da Silva, Vigário Forâneo e pároco da Paróquia Nossa Senhora Perpétuo Socorro também falou com emoção sobre o legado de Francisco: “O Papa Francisco foi um sinal de bênção para a nossa Igreja. Veio como São Francisco, a pedido de Jesus, para reconstruí-la. Ele entendeu que nossa Igreja precisava de purificação, de um cuidado profundo, e promoveu essa reforma interna com coragem. Reformou estruturas, mas, mais que isso, reacendeu a missão pastoral da Igreja, voltada para os pobres, para os pequenos, para os esquecidos. Sua atenção às outras religiões, o respeito mútuo, também marcaram sua liderança mundial.” E completa: “Mesmo com a tristeza de sua partida, temos a esperança que ele tanto proclamou. Francisco nos deixou no Ano Jubilar da Esperança, como se dissesse: ‘Continuem caminhando, pois a esperança não decepciona’. Em sua última bênção ‘urbi et orbi’, no domingo de Páscoa, ele nos deixou um presente. Um sinal de que amou a Igreja, amou o povo, e acima de tudo, amou Jesus Cristo e a Virgem Maria. Se eu pudesse resumi-lo, diria que Francisco foi o misericordioso. Um homem da misericórdia que será lembrado assim, pelas suas obras, pelo seu coração.”