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INCLUSÃO TOTAL NAS ESCOLAS, ESTAMOS OU NÃO NO CAMINHO CERTO?

Doutor em Educação questiona política adotada no Brasil e alerta para prejuízos à aprendizagem de crianças com deficiência

 Publicado em  28/10/2025 às 10h45  Brasil  Educação


Lucelmo Lacerda é autista e pai de uma criança autista

Lucelmo Lacerda é autista e pai de uma criança autista

Por: Flávia Girardi 

A inclusão de estudantes com deficiência em salas de aula regulares é um ideal nobre, que visa à convivência plural e ao respeito à diversidade. No entanto, esse modelo, quando adotado de forma indiscriminada e sem o devido suporte, pode comprometer o desenvolvimento educacional de quem mais necessita de atenção especializada. Esta é a crítica central feita pelo doutor em Educação, pesquisador e ativista Lucelmo Lacerda, no livro Crítica à Pseudociência em Educação Especial, publicado pela Luna Edições.

Lucelmo, que é autista e pai de uma criança autista, sustenta que há um equívoco entre os conceitos de Educação Inclusiva e Inclusão Total , sendo esta última predominante no Brasil e incorporada à atual Política Nacional de Educação Especial (PNEE). A Inclusão Total, segundo o autor, promove a eliminação de espaços especializados, como as APAEs, em nome de uma suposta integração social. Já a Educação Inclusiva, que é adotada por países com melhores índices educacionais, preza pela diversidade de formatos e apoios, valorizando tanto o ensino regular quanto o especializado, a depender da necessidade de cada aluno.

“A melhoria da educação passa necessariamente pela organização de um sistema inclusivo, em que salas e escolas especializadas são imprescindíveis, como se faz em todo e qualquer país civilizado do planeta”, afirma Lucelmo. Ele critica a prevalência de práticas pedagógicas baseadas mais em discursos ideológicos do que em evidências científicas: “A perspectiva da ‘Inclusão Total’ é largamente dominante na academia brasileira e, apesar do nome lisonjeiro, é uma corrente hostil à ciência e cujos resultados são, demonstradamente, prejudiciais às pessoas com deficiência em seu processo de escolarização”.

O autor destaca que crianças e adolescentes com Transtornos Mentais, termo utilizado de forma didática para abranger condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), Deficiência Intelectual e deficiências múltiplas, têm demandas específicas que não podem ser atendidas em salas superlotadas, com profissionais sem formação técnica especializada. Para ele, a substituição de práticas baseadas em evidência por “intencionalidades discursivas” gera um abismo entre o que se prega e o que de fato acontece no cotidiano escolar.

“Só defende esse tipo de inclusão quem não está no dia a dia de uma escola”, afirma Lucelmo. Como alternativa, ele propõe a implementação de Práticas Baseadas em Evidências, metodologia já consolidada em países desenvolvidos, com resultados comprovados na aprendizagem e no desenvolvimento global de estudantes com deficiência.

Histórico de exclusão e protagonismo da sociedade civil

A crítica de Lucelmo também resgata o contexto histórico da inclusão no Brasil, marcado pela exclusão sistemática. No século XIX, surgiram as primeiras escolas para cegos e surdos, mas as pessoas com deficiências múltiplas ou cognitivas permaneciam invisíveis ao Estado. “Foi a sociedade civil que se mobilizou, criando instituições como as APAEs para que essas crianças pudessem acessar algum tipo de escolarização”, relembra.

A urgência de se repensar o modelo de inclusão também aparece na fala da coordenadora do Espaço Avançar, Bárbara Corá, entrevistada pelo podcast Os 6 Gatinhos do Grupo Mais Expressão. Bárbara reforça o papel fundamental das escolas na observação comportamental de crianças com suspeita de autismo. “Pensando, por exemplo, no diagnóstico de autismo, a gente pede relatório para a escola. Não dá para fechar diagnóstico sem saber como essa criança está em grupo”, explica.

Segundo ela, os primeiros sinais mais claros do autismo costumam surgir por volta dos dois anos, especialmente na interação social. “Fica mais evidente quando a criança começa a se desenvolver socialmente. Até os dois anos, ela está mais em casa, com a mãe. A gente espera, por exemplo, que a criança aponte, que imite uma canção que estamos cantando.”

Bárbara destaca ainda que o diagnóstico não deve ser a única preocupação. “Mais importante que o diagnóstico é a intervenção. Se há atraso no desenvolvimento, a criança precisa de estímulo desde já.”

Sobre os níveis de suporte necessários para crianças com autismo, Bárbara alerta contra classificações precipitadas: “Muitas mães recebem diagnósticos com indicação de nível 3 de suporte para bebês pequenos, que naturalmente precisariam de ajuda. Essa conversa precisa acontecer mais tarde, com o desenvolvimento da criança.”

Educação como corresponsabilidade

A entrevista também chama atenção para a corresponsabilidade entre escola e família. “Se observou algo, converse. Pergunte aos pais se a criança já foi ao pediatra. O brasileiro ainda tem dificuldade com o acompanhamento contínuo da saúde — só vai ao médico quando está doente”, alerta Bárbara.

O Espaço Avançar atende crianças de 2 a 14 anos via encaminhamento do SUS e atua com foco no desenvolvimento e no acolhimento familiar. “Não atendemos por demanda espontânea nem com encaminhamento particular. É preciso seguir o fluxo da saúde pública”, finaliza.

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  • Bárbara Corá destaca ainda que o diagnóstico não deve ser a única preocupação

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