Impactos da exposição de crianças e adolescentes

Hoje em dia é muito comum, por meio das redes sociais, os pais contarem suas experiências em relação à maternidade. Divulgam fotografias de seus filhos, os primeiros passinhos, o banho de mangueira sem roupa na casa da vovó. Falam sobre saúde, moda, a evolução na aula de natação. E a aula de dança então? Que fofinhos.

Mas é muito importante uma reflexão sobre alguns problemas que o exagero dessas exposições pode causar na vida das crianças.

O que é Sharenting?

Sharenting é uma palavra inglesa que decorre da união das palavras “share” (compartilhar) e “parenting” (cuidar, no sentido de exercer o poder familiar), que significa liberdade de expressão e privacidade de crianças no ambiente digital.

Mais conhecida como a prática de compartilhamento da vida pessoal da criança, porém, são situações que criam um rastro digital que acompanha a criança ou adolescente para uma vida toda, colocando a vida deles, muitas das vezes, em risco, comprometendo privacidade e colocando em colisão a liberdade de expressão dos pais versus a proteção de dados pessoais dos filhos.

E os influencers?

Os influencers representam uma profissão nova no meio digital, que no mundo mirim está crescendo a cada dia. O cunho financeiro é o principal objetivo de muitas famílias utilizarem-se desse fenômeno, fazendo com que crianças tenham milhares de seguidores nas plataformas digitais.

As vidas das crianças vêm sendo vistas desde seu nascimento, muitas das vezes sem entender o alcance que elas possuem on-line, podendo chegar ao ponto dessa exposição afetar o seu desenvolvimento, impedindo que mecanismos utilizados para lidar com o cotidiano, como a frustração e a interação social se aperfeiçoem corretamente.

Essa exposição infantil, cria um efeito cascata, influenciando outras crianças a terem as mesmas experiências, se expondo cada dia mais de forma desenfreada, compartilhando cada passo de sua rotina.

Legislação conflita liberdade e proteção de dados

A Constituição Federal e o ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente preveem a proteção da liberdade de expressão e o direito à privacidade como direitos fundamentais, que devem ser vistos com muito cuidado, frente à sua atual dimensão no mundo digital.

Contudo, a Lei 13.709/2018 LGPD– Lei Geral de Proteção de Dados, mais recente, apesar de tentar esclarecer quais dados realmente deveriam ser protegidos, falhou em seu art.14 quando diz que “o tratamento de dados pessoais das crianças e adolescentes deverá ser realizado em seu melhor interesse, com consentimento dos pais”.

Mas quando o pai ou a mãe que violam os direitos das crianças? Como se vê, a lei falhou ao não trazer essa previsão, deixando vaga a indicação de como agir para inibir os exageros na vida da criança e do adolescente, pois muitas vezes as pessoas que perdem o freio com a elevada exposição das crianças são os próprios pais.