Publicado em 16/10/2025 às 11h54 Brasil Educação
A divulgação científica é o processo que torna o conhecimento científico acessível a diferentes tipos de públicos. Por meio de linguagens, técnicas e demais canais como textos, vídeos, museus e exposições, o divulgador científico aproxima a sociedade em geral de campos específicos a fim de que seja possível compreender questões e inovações científicas de diversas áreas. Um dos grandes obstáculos da divulgação científica é fazer com o que o conhecimento compartilhado saia do patamar da teoria para a aplicação na vida prática. É sobre isso a entrevista a seguir. E é sobre isso a missão da Amado Maker
Revista Educação: Fale um pouco sobre você e sua formação.
Dr. Pedro Pombo: Minha formação é na área da Física, mas também sou um pesquisador científico em Holografia. Na Irlanda, fiz pesquisa avançada em Holografia no DIT (Dublin Institute of Technology) – podendo utilizar este percurso na Universidade de Aveiro, aqui em Portugal.
Revista Educação: Em que projetos você esteve envolvido após seu período em Dublin?
Dr. Pedro Pombo: Bem, já há muitos anos eu venho trabalhando com o ideal de tornar mais acessível a ciência a todo tipo de pessoa. Eu estive envolvido em projetos que ensinavam física nas escolas de modo mais contextualizado, ajudando os alunos a fazerem hologramas, por exemplo. Outros projetos ligados à física óptica, e demais eventos que tinham por objetivo aproximar a sociedade da ciência. Eu e outros profissionais divulgávamos a ciência e o ensino da física.
Revista Educação: Vocês recebiam apoio do governo para este tipo de trabalho?
Dr. Pedro Pombo: Em 1996, quase 30 anos atrás, o ministro Mariano Gago criou a Agência Nacional Ciência Viva com o intuito de promover a cultura científica e tecnológica em Portugal. Esta mesma agência estendeu o projeto criando a “Ciência Viva no Verão” que consiste em levar ciência às praias e parques. É possível, neste período do ano, ver astrônomos e outros investigadores científicos palestrando nesses ambientes, elucidando temas, fazendo apresentações e respondendo a perguntas. Então, eu entendo que recebemos apoio do governo desde então.
Revista Educação: As Universidades também foram contempladas com ajuda para projetos voltados à educação científica?
Dr. Pedro Pombo: Sim. Muitas universidades receberam financiamento para montarem seu próprio centro de ciência, que era um pavilhão do conhecimento. A partir daí espalhou-se o conceito de ciência viva, criando-se uma rede por todo o país e não apenas nos grandes centros como Porto ou Lisboa. Pontos menores para atender às comunidades locais foram sendo estabelecidos pelos municípios. Foi quando a Universidade de Aveiro recebeu o convite para ter um espaço “Ciência Viva” também.
Revista Educação: Quando foi inaugurado o centro Ciência Viva dentro da Universidade?
Dr. Pedro Pombo: Em 2004, foi aberta a Fábrica Ciência Viva. O nome se deu porque ela fica numa antiga fábrica do campus. Além disso, ela é diferente dos outros centros espalhados pelo país porque fica dentro da universidade, é gerida por um corpo de docente, tem unidades de formação e pesquisa próprias, dentre outras peculiaridades
Revista Educação: Vocês tiveram que lutar por este espaço ou era de interesse da reitoria da Universidade?
Dr. Pedro Pombo: Na verdade, houve muita vontade política da reitoria para que pudéssemos desenvolver isso. No início eu fazia parte da comissão organizadora, mas ainda não era o diretor responsável. Mas desde o começo, estávamos todos decididos a fazer da Fábrica Ciência Viva uma interface entre a comunidade científica, a sociedade e a universidade.
Revista Educação: Como esta interface aconteceu?
Dr. Pedro Pombo: Por meio de várias frentes: Exposições interativas que apresentavam um conjunto de fenômenos científicos; laboratórios científicos com experiências desenvolvidas por profissionais e monitores capacitados; laboratórios de robótica e programação, holografia, biologia, química, física e matemática. O mais interessante é que criamos temas pensando nos interesses da Universidade de Aveiro sem nos esquecer de abrir tudo isso a diferentes públicos e faixas-etárias.
Revista Educação: Quem tem acesso a tudo isso?
Dr. Pedro Pombo: Pasmem, mas nós começamos a ensinar ciência para crianças a partir dos três anos de idade. Contratamos uma pessoa da área da Literatura e autora de histórias para introduzir atividades científicas com uma performance que estivesse de acordo com o imaginário infantil. Tudo foi criado e desenvolvido aqui mesmo, dentro e pela universidade. Outro tipo de interação bem interessante com o público ocorre no auditório. Temos shows de ciência nos quais as pessoas são convidadas a irem ao palco e participarem das experiências.
Revista Educação: Isso é incrível! Como foi a repercussão?
Dr. Pedro Pombo: Foi muito boa e sob vários aspectos fomos nos tornando referência, especialmente porque criamos um sistema educativo muito próprio. Em quatro anos, foi notável o crescimento da Fábrica Ciência Viva. Logo em seguida, em janeiro de 2009, eu assumi o espaço como diretor, onde estou desde então. Atualmente, recebemos 50 mil visitantes por ano de todo país.
Revista Educação: Sob a sua gestão, que pontos mais significativos você destacaria?
Dr. Pedro Pombo: Algumas coisas foram se tornando visíveis para nós. Uma delas tem que ver com o fato de que tínhamos muitos projetos e experiências ligados à Física, mas faltava algo a mais, que promovesse a utilização das mãos e a visualização palpável do conteúdo apresentado. Além disso, observamos que, além da física e da matemática, precisávamos ampliar a Fábrica para a vivência com artes, por exemplo. A gente buscava algo que oferecesse interdisciplinaridade, que possibilitasse o diálogo entre várias disciplinas na realização de uma mesma tarefa.
Revista Educação: Então, vocês alcançaram a interdisciplinaridade que queriam?
Dr. Pedro Pombo: Sim. Mas, na verdade, nós a utilizamos para ampliar a filosofia da Fábrica. Criamos a metodologia STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts, Mathematics), ou seja, Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática. Nosso alvo a partir daí era não separar mais as disciplinas em gavetas, mas mostrar como há sinergia entre elas, inspirando pessoas a verem isso e se tornarem mais colaborativas.
Revista Educação: Toda esta trajetória de popularização da ciência para a sociedade é muito impactante. Em que momento a Amado Maker passa a fazer parte deste time?
Dr. Pedro Pombo: Eu me lembro do Marcelo Amado, CEO da Amado Maker, numa reunião nos anos de 2010 ou 2011, mas eu tive o prazer de conhecê-lo realmente em 2022, quando ele me propôs o desafio de organizar um seminário luso-brasileiro de educação e tecnologia. O evento foi incrível e aconteceu na Fábrica Ciência Viva. No ano seguinte, o Marcelo organizou um outro evento no qual trabalhamos ainda mais de perto, juntos. Fui convidado por ele para ir ao Brasil e ali, na Amado maker, eu pude entender que nosso encontro nunca foi uma coincidência.
Revista Educação: Como vocês conseguiram fazer essas mudanças?
Dr. Pedro Pombo: Na verdade, em 2012, eu viajei para alguns lugares no exterior e pude encontrar o que a gente procurava. Fui a um laboratório de São Francisco e notei que eles estavam bastante avançados quanto à cultura maker. Muitas coisas que vimos ali se encaixavam nas nossas expectativas, mas não havíamos dado início devido aos custos que eram altos. Antigamente, uma impressora 3D e outros equipamentos tecnológicos eram caríssimos. Com o tempo, eles foram barateando e se tornando mais acessíveis.
Revista Educação: A Fábrica Ciência Viva se tornou um laboratório maker?
Dr. Pedro Pombo: Em 2015, criamos nosso espaço maker dentro da Fábrica, com contextos educativos inovadores para prototipagem. E desde o começo, nossos projetos foram pensados de modo que os professores trabalhassem em conjunto.
Revista Educação: A metodologia STEAM foi bem recebida?
Dr. Pedro Pombo: Em reunião com a prefeitura, entendemos que o município já estava pensando nisso – numa cidade STEAM com alunos competentes. O prefeito enfatizou que gostaria de incluir os jovens nessas competências. Assim, desenvolvemos um projeto transversal que abrangesse do ensino fundamental ao ensino médio. Em resumo, estamos nas 44 escolas do município de Aveiro com nossos Tech Labs, isto é, nossos laboratórios makers e metodologia STEAM em todos os níveis de ensino. Esta estratégia municipal para a educação ficou acordada para os anos de 2019 a 2025. O prefeito contratou uma consultoria externa para a avaliação do projeto. O retorno foi tão positivo que ele foi estendido até 2027.
Revista Educação: Vocês descobriram propósitos semelhantes. O que mais chamou a atenção na Amado Maker a ponto de vocês firmarem uma parceria?
Dr. Pedro Pombo: Após nos aproximarmos, fiquei encantado com o trabalho que a Amado Maker realiza, que, na verdade, é até muito maior do que o que realizamos aqui. Promover empreendedorismo, capacitar jovens a realizarem as coisas com as próprias mãos, de modo interdisciplinar e tecnológico, criativo e colaborativo; fazer uso de materiais recicláveis, reduzir consumismo, enfim, são inúmeras as vantagens que tornam a cultura maker e os Tech labs (espaços makers adaptados às realidades das escolas) o futuro da educação. Não houve dúvida de que o certo era firmar um protocolo de colaboração entre a Universidade de Aveiro e a Amado Maker, com o objetivo de juntos propagarmos a educação STEAM, as salas makers, a organização de seminários e a capacitação em educação e tecnologia.
Revista Educação: Como funciona a capacitação em educação e tecnologia?
Dr. Pedro Pombo: Em conjunto com a Amado Maker, criamos um programa especial chamado “Professores sem fronteiras”, que capacitou na metodologia STEAM 110 professores brasileiros entre os anos de 2023 e 2024. Recebemos aqui em Portugal, para um curso intensivo, professores e gestores de Fortaleza e, também, de outras regiões do Brasil, como Sul e Sudeste
Revista Educação: Como você se sente ao notar que a parceria com a Amado Maker abriu uma porta para que seu trabalho deixasse um legado também no Brasil?
Dr. Pedro Pombo: Sinceramente, eu me sinto completamente emocionado. Ao final dos programas, a gente percebe o entusiasmo e intencionalidade de darem continuidade ao que aprenderam, não apenas sonhando, mas com projetos já estruturados. Eu sou muito grato ao Marcelo Amado por ter me proporcionado a chance de participar da transformação de uma geração de professores e, por consequência, de estudantes. E ele nos deu a chance de fazer isso por escolas públicas do Brasil.
Revista Educação: Então, vida longa à esta parceria?
Dr. Pedro Pombo: Sem dúvida alguma. O contexto laboratorial da Amado Maker, os produtos da Amado Tecnologia e o que tudo isso tem sido para a educação brasileira é factível. É o que se vê nas melhores escolas privadas de Portugal. É o que se vê em países como a Finlândia. É o futuro da educação sendo antecipado no Brasil. É maravilhoso ver o impacto de algo tangível, e deixar sementes. Entendo que nos tornamos uma família que deseja transformar a sociedade por meio da educação. E, juntos, estamos inspirando outros países.
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