Publicado em 28/10/2025 às 10h42 Brasil Educação
Foto: Lucas Souza
Por: Flávia Girardi
Na sala de aula da educação infantil, dois bebês choram. Uma professora acolhe um no colo, acaricia, sussurra palavras de afeto. O outro permanece no chão, encostado na perna de uma figura adulta, até que o choro cesse sozinho. Qual dessas crianças é negra?
A pergunta, incômoda, mas necessária, conduz a reflexão proposta pela educadora e pesquisadora Jussara Santos em seu livro Democratização do colo: Educação antirracista para e com bebês e crianças pequenas (Papirus Editora). A obra reúne relatos, estudos e observações da autora ao longo de mais de 20 anos na educação básica, revelando como o racismo estrutural se manifesta de forma sutil e potente já nos primeiros anos de vida.
O racismo não nasce com as pessoas, mas é aprendido, reforçado e reproduzido socialmente. E, como mostra Jussara, muitas vezes a escola, ainda que sem intenção consciente, é um dos primeiros lugares onde essa aprendizagem acontece. Seletividade no afeto, ausência de brinquedos e livros que representem a diversidade racial, mediações pedagógicas excludentes: tudo isso comunica às crianças negras que elas não são vistas, valorizadas ou acolhidas como as demais.
“Nem fique perto desse bebê, ele não gosta de colo, de proximidade” — frases como essa, ouvidas com frequência por Jussara em suas pesquisas, ilustram como estereótipos raciais são naturalizados no trato cotidiano com crianças pequenas, levando ao silenciamento e à perda da autoestima desde muito cedo. Essa exclusão precoce é, muitas vezes, travestida de “timidez” ou “temperamento difícil”, mascarando as reais raízes da desigualdade.
Para transformar essa realidade, a pesquisadora propõe uma abordagem antirracista que vá além de políticas superficiais. A base está na formação dos educadores, no compromisso institucional e, principalmente, na construção de um ambiente onde todos os corpos: negros, indígenas, bolivianos, brancos sejam acolhidos, representados e respeitados. É uma luta por pertencimento que começa no colo, passa pelos livros e brinquedos, e se estende às relações de afeto e cuidado.
Esse pertencimento, como destaca a Comendadora Edna Almeida Lourenço, do Centro de Estudos Africanos e Afro-Brasileiros da PUC-Campinas, é fundamental para a formação da identidade e da autoestima de crianças negras. Edna é idealizadora do Calendário Afrodatas, material gratuito e afro-referenciado que reúne datas simbólicas e personalidades históricas negras, contribuindo para que crianças (e adultos) se reconheçam na construção da sociedade brasileira.
“O conhecimento é a chave”, afirma Edna. “A falta de conhecimento é que leva a atitudes impensadas, que machucam. Quando uma criança negra vê no calendário alguém que se parece com ela, que contribuiu com o mundo, ela entende que pertence, que é importante.”
O Afrodatas, disponível para download gratuito, apresenta nomes como Carolina Maria de Jesus, Juliano Moreira, Teodoro Sampaio, Angela Davis e Martin Luther King Jr., entre outros, ampliando o repertório cultural e histórico dos educadores e das escolas. É uma ferramenta concreta de combate ao apagamento histórico e promoção da igualdade.
Jussara Santos e Edna Lourenço, cada uma a seu modo, apontam para um mesmo caminho: educar para o antirracismo desde a infância é um gesto revolucionário e urgente. Mais do que dizer “eu não sou racista”, é preciso agir, revisar práticas, romper silêncios e garantir que todos os corpos tenham direito ao colo, à história e à dignidade.
Como Edna resume com emoção: “Me apaixono quando vejo uma criança negra com uma boneca negra no colo. Isso é pertença. Isso é dizer: ‘isso aqui é meu, eu faço parte’.”
Acesse gratuitamente o calendário Afrodatas:
https://drive.google.com/file/d/1KZQmU80WwrhndaO7f6tyW4shrE1baxe5/view
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