Publicado em 18/08/2025 às 20h00 Brasil Política
A 'adultização' infantil se refere à exposição precoce de crianças a comportamentos adultos
Foto: Divulgação
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), anunciou nesta segunda-feira (11) que pretende priorizar, já nesta semana, a votação de projetos de lei que combatam ou limitem o alcance de perfis e conteúdos em redes sociais que promovam a chamada “adultização” de crianças e adolescentes.
O termo, que define a indução precoce de menores a comportamentos, linguagens e estéticas típicos da vida adulta, ganhou destaque após um vídeo publicado pelo influenciador digital Felca Bress viralizar nas redes. Na gravação, ele denuncia perfis que publicam imagens e vídeos de crianças e adolescentes com pouca roupa, dançando músicas sensuais ou abordando temas sexuais em transmissões e programas online. O material gerou indignação e mobilizou milhões de internautas.
Para Hugo Motta, o tema exige resposta urgente. “O vídeo do Felca sobre a ‘adultização’ das crianças chocou e mobilizou milhões de brasileiros. Esse é um tema urgente, que toca no coração da nossa sociedade. Na Câmara, há uma série de projetos importantes sobre o assunto. Nesta semana, vamos pautar e enfrentar essa discussão. Obrigado, Felca. Conte com a Câmara para avançar na defesa das crianças”, publicou o deputado em suas redes.
O que é adultização infantil
A psicóloga Bruna Côrtes, especialista em Psicotrauma e Terapia Sistêmica, explica que a adultização infantil acontece quando a criança passa a assumir comportamentos, posturas ou aparências que não condizem com sua fase de desenvolvimento. “Isso pode acontecer ao colocar a criança em contextos que a tratam como ‘mini adulto’, seja com roupas sexualizadas, falas carregadas de conotações adultas ou exposição a temas que não são adequados para sua idade”, afirma.
Ela ressalta que há uma diferença clara entre estimular autonomia, o que é saudável e necessário, e impor padrões adultos. “Incentivar que uma criança arrume sua cama ou escolha a própria roupa é algo positivo, que promove responsabilidade e autoconfiança. Já esperar que ela assuma papéis emocionais ou estéticos típicos de adultos é um desrespeito ao seu tempo de amadurecimento”, pontua.
Redes sociais e o agravamento do problema
Para Côrtes, as plataformas digitais amplificaram a adultização ao oferecerem alcance e validação instantânea. “Vídeos e fotos de crianças reproduzindo comportamentos adultos recebem curtidas e comentários que reforçam essa prática. A busca por engajamento pode fazer com que os responsáveis ignorem os riscos, sem considerar o impacto psicológico a longo prazo”, alerta.
Segundo ela, a prática está ligada a uma lógica cultural mais ampla. “É um sintoma alarmante de uma sociedade que enxerga os mais vulneráveis como objetos a serem dominados e explorados, e não como indivíduos que precisam de proteção e amparo. É a mesma cultura que permite que o poder seja exercido sem a responsabilidade de cuidar”, diz.
Efeitos emocionais e sociais
A psicóloga Bruna Madureira, especialista em trauma, complementa que crianças que crescem sendo tratadas como objetos acabam pulando etapas essenciais do desenvolvimento emocional, criando um “vácuo” afetivo. “Essas crianças aprendem que precisam oferecer o seu corpo ou se vulnerabilizar para existir na relação com o outro. Isso as leva, muitas vezes, a vínculos utilitários e mercantilistas, e o radar emocional se desenvolve quebrado, buscando padrões que lhes são familiares, mesmo que abusivos”, explica.
De acordo com Madureira, essa distorção leva, na vida adulta, à procura por relações nas quais serão abusadas ou violentadas, pois internalizaram que isso é sinônimo de amor e cuidado. “Existe uma confusão profunda entre abuso e afeto. Muitas acreditam que estão sendo vistas, amadas ou reconhecidas quando se expõem e se vulnerabilizam — algo que hoje também se traduz em receber likes, um afeto totalmente falso”, afirma.
Ela classifica essa realidade como um trauma coletivo e transgeracional. “No momento em que a criança precisa de investimento emocional para construir uma autoestima saudável, ela é usada como objeto mercantilista para gerar lucro. Isso gera confusão psíquica intensa e sofrimento profundo, deixando marcas para toda a vida”, completa.
Consequências de longo prazo
Entre os principais danos da adultização precoce, as especialistas apontam baixa autoestima, antecipação da sexualidade, vulnerabilidade a abusos, ansiedade, depressão, dificuldade de estabelecer limites e problemas nos relacionamentos. “Quando a criança é colocada em papéis que não são dela, perde etapas importantes da infância. Isso afeta a forma como ela se percebe e se relaciona com o mundo no futuro”, destaca Côrtes.
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