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Apostas esportivas: quando a brincadeira sai cara

A facilidade de acesso às bets favorecem a ludopatia, ou transtorno do jogo patológico

 Publicado em  18/11/2024 às 12h26  atualizado em 18/11/2024 às 12h38 - Brasil  Saúde


Acesso às plataformas a qualquer hora estimula o vício dos usuários

Acesso às plataformas a qualquer hora estimula o vício dos usuários
Foto: Marcelo Chiconato

Por Marcelo Chiconato

A nossa sociedade sempre conviveu com as apostas: desde aquelas feitas entre amigos na mesa de um bar, ou o homem que gastava suas economias nas corridas do Jockey Club. Com o advento da internet, assim como várias outras ferramentas, o acesso aos jogos de azar foi facilitado.

 As famosas bets estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas e, em especial, dos brasileiros. Uma projeção do Itaú apontou que o setor movimenta, em média, R$ 23,9 bilhões anuais, representando um grande risco não só à economia nacional, mas também à saúde mental do usuário.

A ludopatia, também conhecida como transtorno do jogo patológico, é reconhecida como doença pela OMS (Organização Mundial da Saúde) desde 2018, e representa o usuário com desejo incontrolável de apostar.

A publicidade dessas empresas está presente em todos os locais. Em eventos esportivos, é raro não ver uma referência às bets, desde patrocinadores nas camisetas até mesmo naming rights das competições e arenas. A pessoa que decide começar apenas pela brincadeira, logo, se vê amarrada pelo vício.

Atendimentos a pessoas viciadas em jogos de azar cresceram mais de 1.000% no Brasil entre 2018 e 2023. O psicanalista Arthur Schumann Piccinini detalha como age esse transtorno nas pessoas, “a ludopatia afeta o cérebro de forma semelhante ao vício em drogas, ativando o sistema de recompensa dopaminérgico. Quando uma pessoa joga e experimenta vitórias ou momentos de excitação, há uma liberação de dopamina, que provoca uma sensação de prazer. Isso cria um ciclo em que o indivíduo busca constantemente essa recompensa, levando a um comportamento repetitivo e compulsivo, mesmo diante de perdas ou consequências negativas. A perda do controle é progressiva, e o jogo passa a dominar o pensamento, a emoção e o comportamento, até o fundo do poço e, em alguns casos, até mesmo auto aniquilação”.

Arthur, que fundou uma formação de terapeutas que leva seu próprio nome, explica como identificar um ludopata. O primeiro passo é observar seus comportamentos, quando toda e qualquer justificativa é usada para jogar. A pessoa também se apresenta descompromissada, uma vez que todas as suas responsabilidades são preteridas pelas apostas. O aumento excessivo no volume e valor das transações, crescimento das dívidas e mentiras em relação aos jogos também são sinais.

Schumann também explica que outras condições psicológicas, como ansiedade, depressão e transtornos de personalidade, podem contribuir para o desenvolvimento do jogo patológico. Ele também relaciona com o meio no qual o indivíduo foi criado “uma pessoa que cresce em um ambiente com um familiar ludopata pode ser mais suscetível ao vício. Há tanto uma influência genética, de acordo com algumas vertentes da ciência, quanto ambiental envolvida que faz com que a pessoa busque o jogo como modo 'de identificação ou de busca de reconhecimento daquele pai ou daquela mãe viciada”, explica.

Lucas (nome fantasia), faz apostas diárias nas bets. Entretanto, ele vê esse hábito como sua profissão. Com grande parte da sua renda vindo pelos jogos, o jovem argumenta que, ao desenvolver um método rigoroso, a brincadeira pode se tornar algo sério.

Suas apostas começaram há dois anos, começando pela curiosidade gerada pelos comerciais e divulgações de personalidades influentes. Ainda assim, Lucas aponta que sente alterações em seu humor quando os resultados são negativos, mas que “logo passa”. Colocando na balança, ele sente que mais venceu do que perdeu, e assim influencia outras pessoas ao seu redor.

As bets, visando a atração de outros círculos sociais, também oferecem um grande leque de serviços além dos esportes. Jogos de cassino, como o “tigrinho”, ofertas de bônus altos, ou até mesmo mercados para apostar em eleições, que foram alvo do TSE durante as municipais de 2024, seduzem novos usuários que estão fora da bolha do esporte.

Outra jovem atraída por propagandas e influenciadores foi Júlia (nome fantasia), que não teve a mesma experiência de Lucas. Com a promessa de bônus exorbitantes, que dobrariam a “banca”, termo utilizado para se referir ao saldo nas casas, fez com que ela investisse nos sites. Com os primeiros retornos positivos, ela foi aumentando cada vez mais a aposta, até o momento em que percebeu estar sendo vítima de um golpe.

A casa bloqueou uma quantia de alto valor de Júlia, que afirma ter pedido dinheiro emprestado para fazer o depósito. Diante da dívida, ela contou com a ajuda de seus familiares, que ajudaram a contornar a situação. “Foi o principal motivo para eu não ter depressão. Me deram muito apoio, falando que ia dar certo, que eu não sou a única que ia cair nisso”, desabafa.

Para o tratamento da ludopatia, Arthur Schumann indica o processo terapêutico analítico, para que a pessoa possa entender as causas subjacentes de seu comportamento e, através do amadurecimento, consiga dominar os impulsos e desenvolver estratégias de enfrentamento. O psicanalista também sugere grupos de apoio, para compartilhamento de experiências e fortalecimento por meio da ajuda mútua.

Os Jogadores Anônimos são referência entre as irmandades de apoio à ludopatas. O objetivo principal é fazer com que a pessoa, além de parar de jogar, também ajude o companheiro. O grupo organiza reuniões online e presenciais em todo o Brasil. Também é disponibilizada uma linha de apoio via WhatsApp, através do número (11) 99571-6942.

Galeria de mídia desta notícia

  • Acesso às plataformas a qualquer hora estimula o vício dos usuários

    Acesso às plataformas a qualquer hora estimula o vício dos usuários
    Foto: Marcelo Chiconato

  • Arthur Schumann já trabalhou com muitos casos de ludopatia em seu consultório

    Arthur Schumann já trabalhou com muitos casos de ludopatia em seu consultório
    Foto: Reprodução/Redes Sociais

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