A importância do conforto dos ambientes construídos

Calcular a circulação é imprescindível para permitir o deslocamento tranquilo e seguro pela casa
Foto: Ruschel Arquitetura e Urbanismo

Da Redação

O conforto ambiental pode ser compreendido como um conjunto de técnicas ou características que ofereçam boas condições em termos de temperatura, iluminação e acústica, favorecendo o bem-estar humano e até contribuindo com sua saúde.

Para tanto, estão envolvidos fatores como a qualidade dos materiais utilizados na construção e outras questões que devem ser levadas em consideração desde o planejamento.

O arquiteto Louis Isadore Kahn (1901-1974), grande nome da arquitetura mundial e considerado um dos mais proeminentes de sua profissão no século XX, destacou que “O arquiteto tem que fazer da luz, do som e do calor um problema seu”, reforçando a necessidade de se planejar ambientes que sejam funcionais às mais diversas atividades humanas, como estudo, trabalho e descanso, por exemplo.

Fluidez da casa

A fluidez de uma construção está diretamente ligada à integração de ambientes e uma estética de composição limpa, ou seja, sem a conhecida poluição visual ou elementos que dificultem o percurso entre ambientes.

Uma casa efetivamente fluida tem sua estrutura e espaço pensados de acordo com a dinâmica familiar, seguindo a premissa de praticidade e funcionalidade.

A construção fluida representa mais que um fator arquitetônico, uma vez que acompanha os preceitos da chamada “modernidade líquida”, questionando padrões rígidos e obsoletos e seguindo por outras formas de percepção e sensibilidade estética.

Ainda que parta de outras referências, a prática do Feng Shui se baseia no mesmo princípio: tornar os ambientes mais harmônicos.

O conceito de fluidez também está intimamente ligado à chamada Arquitetura Líquida ou Fluida, que se define a partir do abandono de regras de simetria, deixando de ser reta ou estática e passando a representar movimento e dinamismo, trabalhando com volumes e formas irregulares.

Circulação bem pensada

A circulação é um ponto importante na hora de montar o projeto arquitetônica, afinal será a forma como interagem com o ambiente, e depende do tamanho de cada cômodo e da maneira como os móveis estarão dispostos — bem como suas medidas e estrutura.

Dessa forma, os padrões de medidas para a circulação, em todos os ambientes de um projeto, evocam parâmetros importantes para a organização do espaço: de nada adianta um imóvel bonito que obstrua o espaço ao seu redor. Portanto, é necessário conhecer as medidas exatas do espaço para que se possa calcular a região determinada para os móveis e as folgadas dedicadas à melhor circulação.

Em cozinhas, a média é que a circulação seja de 90 centímetros, gerando espaçamento adequado para que dois indivíduos transitem ao mesmo tempo em caso de necessidade.

Devem ser incluídos nos cálculos os vãos para aberturas, como do forno, da geladeira, de armários e afins — isso em todos os ambientes, já que, ao abrir um mobiliário, ele precisa ter espaço suficiente para não bater em outro objeto ou até mesmo em alguém.

Calcular a circulação é também imprescindível para permitir o deslocamento tranquilo e seguro pela casa, além de evitar situações de mal-estar relacionadas à sensação de “estar comprimido”, coisa que acontece quando o espaço para abertura de portas e gavetas internas é ignorado ou esquecido.

Praticidade

No trabalho de arquitetura, a praticidade pode ser determinada a partir de diversas ações e estratégias.

Para o arquiteto franco-suíço Le Corbusier, a praticidade era expressa por meio do minimalismo, estilo que faz uso de ângulos retos, planos perpendiculares e formas geométricas que valorizam a aparência de volumes ao utilizar a luz natural com a transparência do vidro, por exemplo.

A título de exemplo: o conceito aberto, que elimina as paredes que dividem os ambientes, o espaço se torna mais amplo, funcional e facilitador da circulação.

Iluminação natural

A iluminação de um ambiente pode ter impacto direto sobre o humor, conforto, bem-estar e saúde dos indivíduos. Neste quesito, o uso da iluminação natural é uma estratégia inteligente para promover as condições adequadas a cada atividade a ser desenvolvida em determinado espaço, favorecendo a produtividade e proporcionando satisfação.

Isso acontece porque a utilização da iluminação natural nos conecta ao ambiente externo, tendo como consequência a diminuição dos índices de estresse e fadiga.

No entanto, para que possa ser utilizada de maneira correta, é necessária a compreensão precisa da trajetória solar do local em questão, bem como a avaliação de áreas e horários de sombreamento.

E é importante ressaltar que a luz do sol pode chegar de duas maneiras: direta ou difusa.

A luz solar direta é a fonte mais potente de iluminação e brilho sendo extremamente dinâmica e não oferecendo uniformidade: ela aparece com nuances ou extremos.

Já a luz difusa aparece da maneira contrária: é uniforme e consistente.

Outro tipo de luz que pode ser aproveitada na arquitetura é a luz refletida, pois, quanto mais clara a superfície, mais luz será refletida ao redor do espaço.

Ventilação cruzada

A ventilação cruzada surge como uma estratégia inteligente de utilização dos recursos naturais em benefício da economia financeira e da diminuição no consumo energético.

Esta técnica consiste, basicamente, na disposição de aberturas em um determinado ambiente em paredes opostas ou adjacentes, permitindo a entrada e saída do ar, diminuindo consideravelmente a temperatura interna.

No entanto, a escolha desta estratégia de ventilação deve ser bem planejada, dando atenção para o sentido dos ventos, porque, no caso de uma instalação que parta da janela mais alta, por exemplo, o ar que circulará pelo ambiente será mais quente, por vir da região mais próxima ao telhado.

Conforto acústico

Cada pessoa tem uma relação particular com o ruído, assim como cada tipo de atividade tem especificidades em relação a estímulos sonoros. Por esse motivo, cada espaço ou ambiente deve ser construído tendo em mente as singularidades de seu uso e/ou de quem o usará. No entanto, os limites de ruído suportados pelo ser humano equivalem ao intervalo de intensidade entre 20 e 140 decibéis (dB).

A arquitetura possibilita dois principais tratamentos acústicos: condicionamento sonoro que visa adequar a distribuição de ondas sonoras em um ambiente e condicionar essa distribuição, por meio de materiais com capacidade de absorção e difusão sonora, como espumas acústicas, fibras minerais, tecidos e painéis de madeira perfurados.

Já o isolamento acústico tem o objetivo de atenuar a propagação de som de um ambiente a outro, seja bloqueando ruídos externos ou evitando que sons de um ambiente interfiram nos outros ao seu redor. Para isso, utiliza-se de paredes de alvenaria, concreto, drywall, vidros laminados, janelas e portas e sistemas de paredes duplas.