Em muitas cidades, a cena se repete: carros em fila dupla, buzinas, pressa. A entrada e saída das escolas se transformam em momentos de tensão e risco, quando poderiam ser oportunidades de convivência. A rua, vista apenas como via de passagem, perde sua dimensão mais valiosa: a de encontro. Se planejadas com cuidado urbano, as portas das escolas podem se tornar pontos de vida comunitária. Calçadas largas e acessíveis, faixas bem sinalizadas, arborização e áreas de espera convidam pais, avós e crianças a permanecerem, trocarem palavras, criarem vínculos. Não se trata apenas de segurança viária, mas de um urbanismo que fortalece laços sociais. Barcelona, na Espanha, tem mostrado isso com o programa “Protegemos las Escuelas”, que já transformou o entorno de mais de 200 centros educativos. As intervenções recuperaram 35 mil m² de espaço público, reduziram em até 80% o tráfego motorizado, instalaram bancos, jardineiras e áreas de brincar. O aumento do uso do espaço público pelas famílias e crianças, o maior tempo de permanência no entorno da escola, mais jogos espontâneos nas ruas tem um impacto positivo na percepção de segurança, convívio e bem- -estar da comunidade escolar. Avaliações apontam maior satisfação de famílias e crianças e até ganhos na qualidade do ar em diversos entornos. O que antes era caos virou oportunidade, a escola passa a ser o coração do bairro, lugar de permanência e convivência, devolvendo às infâncias o direito de ocupar a cidade com dignidade.