A recente tragédia em Indaiatuba, onde a vida de uma enfermeira se esvaiu numa sequência cruel – derrapagem, gramado escorregadio, ausência de obstáculos, capotamento e submersão fatal no córrego – nos lembra como o impensável pode surgir da combinação milimétrica de fatores. Faltou um “se”, um desvio mínimo na cadeia de eventos, para que o pior fosse impedido de ocorrer.

Este doloroso alinhamento de “acasos” é, paradoxalmente, o pesadelo que a engenharia se esforça para exorcizar todos os dias. Não projetamos apenas para o óbvio ou o provável. Na construção civil assim como na aviação, buscamos considerar a “tempestade perfeita” quando concebemos um projeto: a combinação de cargas e de diversos esforços, isolados ou combinados como, excentricidade, vento, sismos e configurações improváveis de utilização, no intuito de evitar incidentes e sobretudo, acidentes.

Os coeficientes de segurança, muitas vezes vistos como mero excesso de cautela, são na verdade o nosso reconhecimento da imprevisibilidade. São a “pequena árvore” ou o “modesto monumento” que, se estivesse na trajetória do carro da enfermeira, a teria salvado. O desafio do engenheiro é justamente esse, o de considerar nos cálculos algo que interfira nessa trajetória fatal, como a que vimos.

Se um único dos fatores naquela manhã fatídica tivesse falhado em sua 'missão' milimetricamente trágica, a história seria outra. A engenharia, ao ponderar múltiplas combinações e aplicar margens de segurança, busca exatamente isso: introduzir “falhas” benéficas nessas perfeitas cadeias de eventos, transformando potenciais fatalidades em incidentes contornáveis. É uma busca incessante para que o “e se?” da tragédia seja substituído pelo “ainda bem que”, da prevenção."