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Mitos e verdades sobre a enxaqueca

Neurologista* fala sobre o problema

 Publicado em  10/02/2015 às 09h44  Brasil  Saúde


  1. Enxaqueca é só uma dor de cabeça mais forte

Mito. Enxaqueca é uma doença, com sinais e sintomas bem definidos e critérios de diagnóstico utilizados mundialmente, e é a segunda causa mais comum de cefaleia (dor de cabeça) primária (ou seja, sem causa definida) no mundo. Logo, a enxaqueca é uma forma de dor de cabeça, mas nem toda dor de cabeça é enxaqueca.

  1. Enxaquecas ocorrem só em mulheres

Mito. Enxaqueca pode ocorrer em ambos os sexos, e em todas as idades, mas por fatores genéticos e hormonais, é três vezes mais comum em mulheres que em homens, e é mais frequente a partir da adolescência até cerca dos 40 anos de idade. Antes dos 12 anos de idade, no entanto, a frequência de enxaqueca é semelhante em ambos os sexos, por conta da ausência das flutuações hormonais de estrógeno e progesterona típicas da adolescência e da vida adulta, modificando-se para o número acima após o amadurecimento hormonal. 

  1. Enxaqueca é doença genética

Verdade. Apesar de não haver comprovação científica sólida, há forte história familiar de enxaqueca em parentes de mais de 50% dos pacientes com a doença. Além disso, mães portadoras de enxaqueca têm mais chances de ter filhos que se queixem de dor de cabeça que mães sem a doença. Além disso, gêmeas idênticas têm cerca de 52% de chance de terem enxaqueca, o que difere de gêmeas não idênticas onde a chance é menor.

  1. Quem tem enxaqueca tem mais chance de ter um aneurisma cerebral

Mito. Não há relação entre as duas doenças. Aneurismas são deformações dos vasos que ocorrem por problemas genéticos, ou mais frequentemente devido a hipertensão mal controlada ou tabagismo.

  1. Enxaqueca significa problema nos olhos

Mito. Enxaqueca é uma doença que nada tem a ver com doenças oculares. Na verdade, problemas de refração, como a miopia e o astigmatismo, produzem dor de cabeça diferente da enxaqueca, não latejante, sem ânsia de vômito, e que piora quando o paciente foca a visão em algo. Mas algumas crises de enxaqueca podem ser acompanhadas manifestações visuais, as famosas auras, como pontos enegrecidos, bolas coloridas, manchas, linhas brilhantes e perdas visuais, que são temporárias, não significam nenhuma doença ocular, e resolvem com o início ou durante a dor de cabeça.

  1. Enxaqueca pode levar a um derrame cerebral

Verdade. A enxaqueca pode ser classificada a grosso modo em enxaqueca com aura, quando há manifestações como as alterações visuais descritas acima, e sem auras, quando essas manifestações não existem. Vários estudos demonstram que a enxaqueca também é uma doença dos vasos da cabeça, e quando não tratada, a enxaqueca com aura pode produzir lesões vasculares que podem levar a um derrame. Além disso, o fumo e os já conhecidos fatores de risco vascular, como obesidade, hipertensão arterial e diabetes, contribuem para o aumento da chance de derrame em um paciente com enxaqueca.

  1. Alimentos podem causar enxaqueca

Verdade. Mas na verdade, eles não causam, e sim desencadeiam uma crise de enxaqueca em pacientes com a doença ou com predisposição para desenvolver a doença. Os mais conhecidos são alimentos gordurosos, chocolate, frituras, molhos condimentados, embutidos e castanhas. Mas há pacientes cujas dores podem ser desencadeadas por outros alimentos. Já tive pacientes que tinham crises de enxaqueca com pepino, melancia, melão e pimentão. E conheço vários pacientes que podem comer de tudo, e não têm crises de enxaqueca. Tudo depende da constituição genética do indivíduo.

  1. A enxaqueca melhora na gestação

Verdade. Mas nem sempre. É bem conhecida a relação entre gestação e melhora da enxaqueca, que ocorre em cerca de 60% das mulheres com enxaqueca sem aura, e em menos ainda nas mulheres com enxaqueca com aura. Mas há pacientes, especialmente as com enxaqueca com aura, cujas dores podem piorar durante a gestação. E uma mesma paciente pode ter uma gravidez sem enxaqueca, e outra com enxaqueca. Logo, é verdade que a enxaqueca melhora na gestação, mas não em todas as mulheres.

  1. O tratamento da enxaqueca é baseado em analgésicos

Mito. O tratamento das crises pode ser feito com analgésicos, mas a dor deve ser prevenida sempre que houver indicação, ou seja, quando houver incapacidade causada pela dor, quando o número de crises por semana for alto ou quando a dor causar impacto na vida social e profissional da pessoa. Daí, utilizam-se medicações específicas, de uso diário pelo tempo determinado pelo médico.

  1. Tomar analgésicos em excesso pode piorar enxaqueca

Verdade. O uso desmedido ou crônico de analgésicos sem suporte médico apropriado pode causar uma forma de dor de cabeça chamada de cefaleia por abuso de medicação, que pode ser diária ou quase diária e levar a mais incapacidade para o paciente e perda da qualidade de vida. O tratamento da enxaqueca deve ser feito através de consultas periódicas com um neurologista especialista no tratamento de pacientes com essa doença.

  1. Anestesia espinhal (raquianestesia) pode causar enxaqueca

Mito. Cerca de 20 a 30% dos pacientes que realizam anestesia espinhal ou coleta de líquor da espinha podem ter uma dor de cabeça bem diferente da enxaqueca, a chamada cefaleia pós-punção, que melhora ao deitar e piora quando o paciente levanta. Mas o procedimento não leva ao aparecimento de enxaqueca.

  1. Enxaqueca pode piorar após um trauma craniano.

Verdade. Alguns pacientes portadores de enxaqueca podem ter piora dos seus sintomas ou aumento da frequência das crises após um traumatismo craniano independente de sua intensidade. Isso não ocorre sempre, e provavelmente depende da predisposição genética do indivíduo.

Dr. Flávio Sallem é médico neurologista, mestre e palestrante, do Hospital do Coração e Hospital das Clínicas em São Paulo http://www.neuroinformacao.blogspot.com.br). 

 

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