Livro contará história que inspirou e deu origem ao Instituto Gabriel

Maria Inês Toledo de Azevedo Carvalho, de 68 anos com o seu livro “Gabrielle: Sementes de esperança”, após entrevista ao Grupo Mais Expressão
Foto: Rayane Lins

Rayane Lins

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A fundadora e presidente do Instituto Gabriel (Grupo de Atuação Brasileiro para Realização de Transplantes Infantis e Estudos do Tubo Neural), Maria Inês Toledo de Azevedo Carvalho, compartilha sua história e trajetória de vida em Gabrielle: Sementes da Esperança, livro que será lançado oficialmente na próxima quarta-feira, dia 24, a partir das 18h, no Espaço Reconceito Casa.

O livro conta a história de vida de Maria Inês e do marido Valdir, que resultou no surgimento da organização que hoje é conhecida como Instituto Gabriel. Maria Inês passou por um total de seis gestações. A primeira foi da sua filha Débora e depois disso, o casal sofreu uma série de intercorrências. A última gestação foi de Gabrielle, em 1998, quando em seu terceiro mês de gravidez, através de uma ultrassonografia, soube que o bebê era portador de anencefalia, que levaria a criança à morte.

Contrariando as expectativas, Inês decidiu que manteria a gravidez até o fim, na tentativa de doar os órgãos da criança, após conhecer a história de um menino italiano portador da mesma doença, cujos pais conseguiram doar seu coração. Na maioria dos casos envolvendo anencefalia, os órgãos são saudáveis e podem perfeitamente ser usados em transplantes.

A decisão, porém, esbarrou na legislação que trata da doação de órgãos no país. A lei não previa a utilização de órgãos de uma criança anencéfala. O casal procurou então os conselhos estadual e federal de Medicina em busca de um parecer sobre o caso.

O CRM (Conselho Regional de Medicina) de São Paulo avaliou que não havia nenhum problema na retirada dos órgãos logo após o nascimento, mas a opinião do CFM (Conselho Federal de Medicina) foi diferente: era preciso esperar uma semana e só depois de detectada a morte cerebral é que a doação poderia acontecer.

Procedimento

Esse procedimento, usado no caso de crianças normais, foi criticado por várias autoridades médicas e jurídicas, porque inviabilizaria a doação, já que a maioria dos bebês anencéfalos morre logo após o nascimento.

Inconformados com a decisão, Maria Inês e Valdir entraram com uma medida cautelar para tentar garantir na Justiça o direito de doar os órgãos do bebê, porém não deu tempo.

Gabrielle nasceu prematura, com apenas 725 gramas, e sobreviveu 90 minutos.

A partir daí, o casal se engajou na luta pela normatização das doações de órgãos de bebês nascidos com anencefalia. Ao tomar conhecimento da situação dos transplantes no país, ampliaram a atuação ao incentivo irrestrito da doação de órgãos e tecidos.

Maria Inês escreveu o livro em 1998 e só deu continuidade à publicação após a morte do marido em 2019, com o objetivo de inspirar outras pessoas e conscientizar sobre a importância da doação de órgãos. “Uma vez escutei algo que guardei pra minha vida: certas coias não se pode mudar. Então a palavra é aceitação. Mas o que se faz depois, é que faz a diferença. É a sua decisão, sua escolha. Esse livro, além de um desabafo, é uma história de superação, fé e resiliência”, destaca Maria Inês.

“Quando vi o livro pronto, senti que foi quase o nascimento de um filho, porque todos os sentimentos voltam, não é mesmo?”, afirma. “Você começa a relembrar tudo e as emoções também retornam. Mas isso é necessário. Hoje eu vejo a importância desse livro, tanto para mim e para Valdir, quanto para todos que vão ler”, conclui a fundadora do Instituto.

O livro custa R$ 40 e toda arrecadação com a venda da obra será revertida para o Instituto Gabriel, cuja missão é compartilhar com a sociedade conhecimentos de saúde e cidadania, conscientizando-a sobre importância da preservação e dignidade do ciclo da vida, com foco para doação de órgãos e tecidos.

O lançamento de Gabrielle: Sementes de Esperança” acontece na próxima quarta-feira, dia 24, a partir das das 18h, no Espaço Reconceito Casa, que fica na Rua 5 de Julho, 591, no Jardim Pau Preto.